quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Rublev

Primeiro quarto do século XV:
                                 Respingos de água na tela distorcem a visão do
espectador .


Assim morre Foma,
o inexperiente ajudante de Rublev.

(Na verdade, Foma é acertado nas costas por uma flecha
durante uma invasão tártara a Vladimir).

Ao cair no rio,
                        a água é impulsionada
  e  assim vemos
 em câmera lenta
                        os respingos embotando o vidro.

 Mas o esvair da vida ganha reforço
quando vemos as tintas desse aprendiz de pintor
 dissolver-se
                  languidamente


rio abaixo

2 comentários:

  1. Robert Frost acredita que a “poesia é quando uma emoção encontra seu pensamento e o pensamento encontra palavras”. Esse poema é uma perfeita apreensão de uma cena forte, viva... É interessante ver o paradoxo, a morte de Foma ganha vida nas palavras de um poeta contemplativo. Um lindo poema!

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  2. Imagem muito bem escolhida para representar o filme, bastante icônica (sobre alguém cuja arte era produzir ícones!). A água do rio como uma tela fluida, na qual a tinta, na mesma proporção que escapa do corpo do aprendiz, levando-lhe à morte, colore a vida por meio da arte... A morte do aprendiz, que é vida na arte, morte redimida em arte pelo olhar do eu poético tarkovskiano... Muito fanopeico, de fato! Estamos lá, com Foma, acompanhando a tinta lentamente esvaindo de seu corpo...

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